Crítica | The house

 The House, filme de animação em stop-motion da Netflix, não é uma simples comédia de erros.  É uma sátira mordaz e multifacetada sobre a busca incessante pelo sonho da casa própria, explorando as armadilhas do capitalismo, a ganância e a ilusão do sucesso fácil.  Dividido em três atos interconectados, o filme acompanha diferentes personagens e épocas, todos unidos pela mesma casa, mas com destinos tragicômicos distintos.

O primeiro ato, ambientado na época medieval, apresenta uma família de camponeses que, em busca de uma vida melhor, entra em um acordo duvidoso com um nobre.  Aqui, a comédia se apoia no absurdo e na ironia, mostrando como a ambição pode levar à ruína.  A animação, com seu estilo stop-motion característico, cria um visual peculiar e encantador, contrastando com a crueldade da história.

Embora a nova casa pareça melhor, os pais começam a apresentar comportamentos estranhos. Eles passam a usar roupas luxuosas que combinam com a estética medieval da casa. A mãe se torna obcecada por costura, enquanto o pai se interessa de forma excessiva pelo fogo. A menina, percebendo que a mãe não está cuidando do bebê, se sente confusa e preocupada com as mudanças na dinâmica familiar. Enquanto isso, eventos estranhos começam a ocorrer, aumentando o mistério que envolve a nova moradia.

A segunda história gira em torno da tentativa frustrada de um rato de vender sua casa impecavelmente reformada.  Ele se dedica a deixá-la perfeita, mas a infestação de baratas (irônico, considerando que ele é um rato!) e o posterior interesse de um casal de ratos compradores mudam completamente seus planos.  A princípio, tudo parece ir bem, mas o casal se instala de forma permanente, tornando-se um problema para o rato vendedor.  A inação do rato vendedor, aliada à sua carência emocional (que o leva a ligar insistentemente para o dentista, um relacionamento completamente inapropriado), o deixa numa situação ainda mais complicada.  A denúncia do dentista à polícia por assédio demonstra a sua fragilidade e a falta de suporte. 

O acidente do rato vendedor, seguido de sua alta hospitalar e o retorno para uma casa ocupada pelos novos moradores, mostra a sua vulnerabilidade e a perda de controle da situação.  A chegada da família do casal de ratos e a consequente destruição da casa representam a completa derrotada do rato vendedor, que abandona a sua busca pela perfeição e limpeza, sucumbindo ao caos e à destruição.  Ele se junta aos invasores, tornando-se parte do problema que ele mesmo tentou resolver.


A terceira historia da Gata Rosa, teimosa e idealista, se recusa a aceitar a realidade iminente da inundação.  Ela investe tempo e energia em reformas fúteis, como colocar adesivos que não colam, numa tentativa desesperada de manter a fachada de uma pensão funcional, mesmo com a água subindo.  A sua crença em um futuro com novos inquilinos é uma forma de negar a inevitabilidade da perda.  A insistência em manter a pensão reflete sua ligação emocional com o local, possivelmente uma herança familiar, algo que ela se recusa a abandonar.

Os inquilinos, representando a realidade pragmática, pagam com peixes, simbolizando a escassez e a dificuldade de sobrevivência no ambiente inundado.  Eles, ao contrário da Rosa, aceitam a situação e buscam soluções práticas para escapar.  O namorado da inquilina, com sua energia positiva e o barco que chega, representa a salvação e a possibilidade de um novo começo.

A construção do barco com as madeiras da pensão é um ato simbólico de aceitação da perda.  A indignação da Rosa é compreensível, mas também mostra sua resistência em deixar para trás seu passado e sua propriedade.  A decisão do inquilino em usar as madeiras demonstra pragmatismo: a sobrevivência é mais importante do que a preservação de uma estrutura em vias de desaparecer.

A sua história é rica em simbolismos e deixa várias interpretações possíveis.  A teimosia da Rosa, a pragmática dos inquilinos, a inundação como metáfora da perda inevitável... tudo contribui para uma narrativa complexa e tocante. O que você pensou que significava essa história?  Tem alguma interpretação específica sobre o significado da rosa ou da pensão para você?

The House não é um filme para crianças, apesar do estilo de animação.  Sua sátira é adulta e mordaz, e as histórias apresentadas, embora fantasiosas, refletem verdades incômodas sobre a sociedade e a busca incessante pelo sucesso material.  A animação em stop-motion é impecável, criando um visual único e memorável, e a narrativa, apesar de fragmentada, é coesa e eficaz em sua crítica social.  Se você busca uma animação inteligente, divertida e com algo a dizer, The House é uma excelente opção.  Recomendado para aqueles que apreciam comédia ácida e animações que vão além do entretenimento superficial.

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7 comentários

  1. Olá! Há muito tempo que assisti a este filme e gostei muito mas também foi um bocado estranho, por isso é verdade que não é um filme para crianças e às vezes acho que parece que existe um vazío. Bejinhos

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    1. Oii! Que legal que você tenha assistido! Na primeira vez que assisti, achei estranho também rsrs.
      Beijos!

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    2. nossa, eu amo esse filme, tenho a música inclusive no spotify. é tão realista que é desconcertante. beijos, pedrita

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  2. Oi! Parece ser uma animação muito boa, inteligente e com uma abordagem interessante de problemas atuais. Adorei a dica. Bjos!!
    Moonlight Books

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    1. Oii! Que bom que você gostou da animação! Fico feliz que tenha apreciado a abordagem e a mensagem.
      Beijos!

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  3. Jéssica achava que o filme era pra criança, porém gostei da sugestão do filme, é uma boa pedida pra assistir, bjs.

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